O ESTRIPADOR DAS SOMBRAS: A VERDADEIRA IDENTIDADE DE JACK E O LEGADO DE TERROR NA LONDRES VITORIANA
ATENÇÃO: Este artigo contém imagens, descrições e temas sensíveis relacionados a crimes violentos. Recomenda-se discreção ao prosseguir.
Na antiga Londres Vitoriana, onde a neblina dançava entre os becos e o som das carruagens ecoava pela madrugada, o medo tinha um nome. Olá, eu me chamo Daniel R. e seja bem-vindo ao Diário Investigativo, onde exploramos os bastidores dos crimes que marcaram a sociedade. Hoje, embarcaremos numa jornada sombria para revisitar um dos maiores mistérios da história criminal: a identidade de Jack, o Estripador.
Por mais de um século, esse nome ecoou como um sísifo sinistro pelos corredores da memória coletiva. Entre os becos de Whitechapel, um assassino frio e metódico ceifou vidas de mulheres em condições miseráveis, espalhando pânico e alimentando lendas que atravessaram gerações. Mas quem era Jack? O que o motivava? E, mais importante: ele realmente deixou pistas de sua identidade?
Neste artigo exclusivo, trazemos uma análise profunda baseada em fontes históricas, investigações contemporâneas e o inquietante livro "O Diário de Jack, o Estripador", de Shirley Harrison. Também consultamos o portal especializado Jack the Ripper e a reportagem recente da revista Aventuras na História, que trouxe novas luzes sobre o caso.
O CENÁRIO: LONDRES VITORIANA E O DISTRITO DE WHITECHAPEL
Na década de 1880, Londres era uma cidade dividida entre a opulência e a miséria. O bairro de Whitechapel, situado no East End da cidade, era um verdadeiro labirinto de pobreza, prostituição, alcoolismo e criminalidade. Mais de 76 mil pessoas viviam em condições precárias, amontoadas em cortiços insalubres.
Foi neste cenário que surgiram os crimes que marcariam a história para sempre. Entre agosto e novembro de 1888, cinco mulheres foram brutalmente assassinadas com métodos cruéis e precisão quase cirúrgica. A mídia batizou o autor dos crimes de "Jack the Ripper" após uma carta supostamente enviada à polícia assinada com esse nome.
AS VÍTIMAS CANÔNICAS
A investigação dos assassinatos de Jack, o Estripador, geralmente gira em torno de cinco mulheres — as chamadas vítimas canônicas. Embora outras mortes tenham sido associadas ao mesmo assassino, essas cinco apresentam similaridades consistentes nas mutilações e na cronologia dos crimes, ocorridos entre agosto e novembro de 1888, em Whitechapel, no East End de Londres.
Todas essas mulheres tinham algo em comum: eram marginalizadas pela sociedade vitoriana, vivendo nas sombras da pobreza e, em sua maioria, recorrendo à prostituição como forma de sobrevivência. Mas antes de serem vítimas, eram pessoas com histórias, dores e esperanças. Aqui, recuperamos um pouco de suas trajetórias — e da violência que as arrancou do mundo.
MARY ANN NICHOLS – A Primeira
DATA DA MORTE: 31 de agosto de 1888
IDADE: 43 anos
OCUPAÇÃO: Ex-doméstica e eventualmente prostituta
APELIDO: Polly
ONDE FOI ENCONTRADA: Buck’s Row (hoje Durward Street), às 3h40 da manhã
Mary Ann Nichols, conhecida como Polly, levava uma vida marcada pela instabilidade. Após o fim do casamento e a perda da guarda dos filhos, vagava pelas ruas de Whitechapel, se hospedando em pensões baratas quando conseguia dinheiro. Na noite de sua morte, havia sido vista tentando conseguir o suficiente para pagar uma cama para dormir.
Seu corpo foi encontrado deitado de costas, com a saia levantada até a cintura. A garganta havia sido cortada duas vezes profundamente, e o abdômen apresentava mutilações extensas. Foi o primeiro assassinato que chamou a atenção da imprensa e das autoridades, marcando o início do reinado de terror de Jack, o Estripador.
ANNIE CHAPMAN – A Mulher da Hanbury Street
DATA DA MORTE: 8 de setembro de 1888
IDADE: 47 anos
OCUPAÇÃO: Vendedora de flores e, ocasionalmente, prostituta
ONDE FOI ECONTRADA: 29 Hanbury Street, por volta das 6h da manhã
Annie enfrentava sérios problemas de saúde, agravados pela bebida e pela perda de dois filhos. Estava sem moradia fixa e perambulava pelas ruas, muitas vezes trocando favores por um teto. Na madrugada de 8 de setembro, foi vista pela última vez pedindo dinheiro para pagar uma cama.
Seu corpo foi descoberto no quintal de uma casa, deitada de costas com as pernas abertas. A garganta estava cortada, e o útero havia sido removido. A frieza cirúrgica do assassino alarmou ainda mais a polícia, e a teoria de que ele poderia ter conhecimentos médicos começou a circular.
ELIZABETH STRIDE – O Crime Inacabado
DATA DA MORTE: 30 de setembro de 1888
IDADE: 44 anos
OCUPAÇÃO: Ex-empregada doméstica, prostituta ocasional
APELIDO: Long Liz
ONDE FOI ENCONTRADA: Dutfield’s Yard, Berner Street, às 1h da manhã
Nascida na Suécia, Elizabeth chegou a Londres casada, mas após o fim do relacionamento e envolvimento com o álcool, passou a viver nas ruas. Ela era conhecida por seu temperamento forte e por falar vários idiomas.
Na noite em que morreu, ela foi vista acompanhada por um homem. Pouco tempo depois, seu corpo foi encontrado com um único corte profundo na garganta, sem mutilações abdominais, o que leva muitos estudiosos a crerem que Jack foi interrompido antes de concluir seu ritual macabro.
CATHERINE EDDOWES – A Mutilação Mais Brutal Até Então
DATA DA MORTE: 30 de setembro de 1888 (mesma noite de Elizabeth)
IDADE: 46 anos
OCUPAÇÃO: Lavadeira e vendedora ambulante
ONDE FOI ENCONTRADA: Mitre Square, na City de Londres, às 1h45
Catherine era conhecida por sua inteligência e humor, mas também tinha um histórico de alcoolismo. Foi presa horas antes de sua morte por estar embriagada em público, mas liberada durante a madrugada.
Menos de uma hora após a morte de Elizabeth Stride, Catherine foi assassinada. Seu corpo apresentava cortes profundos no rosto, garganta cortada até a espinha, abdômen aberto e um rim removido. Um pedaço ensanguentado de seu avental foi encontrado a alguns quarteirões de distância, próximo a um muro onde havia uma mensagem escrita em giz que dizia:
"The Juwes are the men that will not be blamed for nothing."
Uma tradução literal e aproximada para o português seria:
"Os Juwes são os homens que não serão culpados por nada."
No entanto, a estrutura da frase permite interpretações ambíguas, especialmente porque ela usa uma dupla negação ("will not be blamed for nothing"), o que pode sugerir duas leituras:
Eles não serão culpados de nada. (Inocentes)
Eles serão culpados de tudo. (Interpretação mais agressiva, se tomarmos a dupla negação como ênfase)
O termo "Juwes" não é comum no inglês. Muitos acreditam que seja uma grafia incorreta ou proposital da palavra "Jews" (judeus), o que levantou preocupações sobre possível motivação antissemita na frase. Por isso, o então comissário da polícia, Sir Charles Warren, ordenou que a frase fosse apagada rapidamente, para evitar agitação social e linchamentos.
Há teorias que sugerem que a grafia "Juwes" pode se referir a algo esotérico ou maçônico, mas nada foi comprovado até hoje.
MARY JANE KELLY– A Última e Mais Jovem
DATA DA MORTE: 9 de novembro de 1888
IDADE: Cerca de 25 anos
OCUPAÇÃO: Prostituta
ONDE FOI ECONTRADA: Em seu quarto, Miller’s Court, nº 13, Dorset Street
Mary Jane Kelly foi a única vítima morta dentro de um cômodo fechado, o que deu ao assassino tempo e privacidade. Descrita como bonita e gentil, Mary era a mais jovem das vítimas canônicas e vivia com um homem chamado Joseph Barnett até pouco tempo antes de sua morte.
O cenário encontrado no quarto foi de puro horror: seu corpo estava completamente mutilado. A face, irreconhecível; os seios e órgãos internos removidos; parte do fígado foi encontrado sobre a mesa. Foi o crime mais brutal de todos, e muitos acreditam que representou o clímax da fúria de Jack — ou talvez o fim de sua necessidade de matar.
OS DIÁRIOS DE JACK, O ESTRIPADOR
Em 1992, veio a público um artefato controverso: o suposto diário de Jack, o Estripador, atribuindo os crimes a James Maybrick, um comerciante de Liverpool. O livro, analisado por Shirley Harrison, apresenta confissões perturbadoras:
"Eu as matei todas. Elas sabiam demais. O diabo falou comigo e eu obedeci. As ruas de Whitechapel eram meu palco e elas, as atrizes de um drama fatal."
A autenticidade do diário é contestada por muitos, mas é inegável o seu poder narrativo e os detalhes que coincidem com a cena dos crimes.
TESTEMUNHOS DA ÉPOCA
Muitos moradores de Whitechapel descreveram o ambiente de medo que tomou conta do bairro:
"Ninguém dormia. As mulheres não saíam à noite. A cidade estava assombrada." — relato de um morador publicado no Times em 1888.
"Ele parecia um cavalheiro, bem vestido. Mas o olhar... ah, aquele olhar era o do diabo." — depoimento de Elizabeth Long, testemunha no caso de Annie Chapman.
OS SUSPEITOS: QUEM ERA JACK?
Mais de um século depois, a pergunta permanece sem resposta definitiva: quem foi Jack, o Estripador? A sombra do assassino ainda paira sobre as vielas úmidas de Whitechapel, desafiando estudiosos, detetives amadores e especialistas em criminologia ao redor do mundo.
Ao longo dos anos, centenas de nomes foram sugeridos. Alguns suspeitos foram investigados com seriedade pela polícia da época. Outros surgiram por meio de teorias modernas — algumas plausíveis, outras fantasiosas.
Abaixo, reunimos os principais suspeitos históricos e contemporâneos, explorando o que os ligava aos crimes e por que permanecem no imaginário popular até hoje.
AARON KOSMINSKI – O Barbeiro Polonês e o DNA que Pode Ter Revelado Tudo
OCUPAÇÃO: Barbeiro
ORIGEM: Polônia
PERFIL: Imigrante judeu, diagnosticado com transtornos mentais
MOTIVO PARA SUSPEITA: Proximidade geográfica com os crimes, comportamento estranho, identificado por testemunha ocular
Aaron Kosminski é hoje considerado por muitos como o suspeito mais provável de ser Jack, o Estripador. Na época, ele era conhecido pela polícia como mentalmente instável, com episódios de violência e alucinações. Foi internado em um asilo poucos anos após os assassinatos e permaneceu sob custódia até sua morte.
Em 2019, uma análise de DNA mitocondrial feita por cientistas britânicos na Universidade de Liverpool John Moores reacendeu a discussão. A pesquisa foi publicada no Journal of Forensic Sciences, analisando material genético encontrado em um xale supostamente presente na cena do assassinato de Catherine Eddowes. O DNA coincidia com descendentes vivos de Kosminski, o que gerou alarde mundial.
Porém, a autenticidade do xale é contestada. Ele teria sido adquirido por um detetive da época e passado por várias mãos antes da análise. Ainda assim, o nome de Kosminski permanece no topo da lista de suspeitos mais prováveis.
MONTAGUE JOHN DRUITT – O Advogado com Passado Sombrio
OCUPAÇÃO: Advogado e professor
PERFIL: Educado, pertencente à classe média
MOTIVO PARA SUSPEITA: Suicídio logo após o último assassinato; considerado instável emocionalmente
Druitt desapareceu dias após o assassinato de Mary Jane Kelly, sendo encontrado morto no rio Tâmisa semanas depois. A polícia recebeu uma carta anônima alegando que o Estripador havia se suicidado após o último crime, coincidindo com seu desaparecimento.
Embora não existam provas diretas ligando-o aos crimes, ele foi considerado suspeito pelo inspetor chefe da polícia Melville Macnaghten, que alegava que a família de Druitt acreditava em sua culpa.
GEORGE CHAPMAN (Severin Klosowski) – O Envenenador
OCUPAÇÃO: Cabeleireiro e cirurgião de formação
ORIGEM: Polônia
PERFIL: Frio, metódico, envenenou três mulheres
MOTIVO PARA SUSPEITA: Morava perto dos locais dos assassinatos, histórico de violência contra mulheres
Chapman foi enforcado em 1903 por ter envenenado três de suas esposas. Seu nome real era Severin Klosowski, e ele teria se mudado para Londres pouco antes da série de assassinatos começar.
O famoso detetive Frederick Abberline, que liderou as investigações de Whitechapel, acreditava firmemente que Chapman era Jack, o Estripador.
Entretanto, os métodos dos crimes de Chapman (envenenamento) eram muito diferentes das mutilações brutais de Jack, o que gera controvérsias.
FRANCIS TUMBLETY – O Médico Excêntrico
OCUPAÇÃO: Charlatão e “médico” autodidata
ORIGEM: Estados Unidos
PERFIL: Odiava mulheres, especialmente prostitutas
MOTIVO PARA SUSPEITA: Preso por comportamento indecente; fugiu para os EUA durante os assassinatos
Tumblety era um excêntrico notório, que colecionava órgãos femininos e fazia declarações misóginas. Foi preso durante a época dos assassinatos por acusações de “atos indecentes” com outros homens, mas libertado sob fiança. Logo depois, fugiu para os Estados Unidos, o que coincide com o fim dos crimes.
Sua ligação aos assassinatos é indireta, mas o perfil psicológico corresponde ao de um possível serial killer. Contudo, nenhuma prova concreta foi encontrada.
WALTER SICKERT– O Artista Obcecado por Jack
OCUPAÇÃO: Pintor britânico de renome
PERFIL: Artista sombrio, com fascínio pelo macabro
MOTIVO PARA SUSPEITA: Teoria defendida por Patricia Cornwell com base em DNA e análise de obras
A famosa autora de romances policiais Patricia Cornwell comprou quadros e documentos de Sickert, analisando-os exaustivamente. Ela afirma ter encontrado traços de DNA semelhantes aos presentes nas cartas enviadas por Jack. Cornwell argumenta que Sickert tinha um histórico de traumas físicos e sexuais e expressava, em sua arte, visões perturbadoras de mulheres mutiladas.
Porém, a teoria é amplamente contestada, e há registros de que Sickert estava fora de Londres durante parte dos assassinatos.
JAMES MAYBRICK – O Homem do Diário
OCUPAÇÃO: Comerciante de algodão de Liverpool
PERFIL: Viciado em arsênico, vida dupla
MOTIVO PARA SUSPEITA: Alegado autor de um diário atribuído a Jack, descoberto em 1992
O livro "O Diário de Jack, o Estripador", publicado por Shirley Harrison, apresenta um texto escrito em primeira pessoa por alguém que confessa os crimes e assina como "Jack". O diário, descoberto em Liverpool, é atribuído a James Maybrick, que viveu entre 1838 e 1889.
Trecho do diário: "Minha querida Florence jamais saberá a escuridão que há em mim. Eu saio, eu corto, e o sangue canta para mim..."
Apesar da escrita convincente e do estilo perturbador, muitos especialistas consideram o diário uma falsificação moderna. Ainda assim, a narrativa convenceu parte do público e gerou novos olhares sobre Maybrick.
OUTROS SUSPEITOS NOTÓRIOS
PRINCIPE ALBERT VICTOR – Neto da Rainha Vitória. Teoria altamente conspiratória, sem base concreta.
LEWIS CARROLL – Autor de “Alice no País das Maravilhas”; teoria literária rebuscada e sem fundamento.
WILLIAM GULL – Médico da realeza; envolvido em teorias maçônicas e conspirações.
Esses nomes surgem em teorias alternativas e livros sensacionalistas, muitas vezes envolvendo a maçonaria, a família real ou pactos secretos. Embora fascinantes, carecem de evidência sólida.
TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO
As teorias variam de complôs da realeza a rituais maçônicos. Uma das mais famosas é a teoria de Stephen Knight, que liga os crimes à tentativa de acobertar um filho ilegítimo do príncipe Albert Victor.
Há também a hipótese de que os assassinatos foram cometidos por mais de uma pessoa, ou mesmo uma organização secreta que queria silenciar as mulheres.
E JACK, AFINAL, QUEM ERA?
Com o avanço da ciência, o nome de Aaron Kosminski ganhou força. No entanto, as controvérsias em torno da prova de DNA e a perda de muitas evidências ao longo dos anos tornam improvável que o mistério seja resolvido com 100% de certeza. Jack, o Estripador, permanece um espectro nos becos de Londres — não apenas como um assassino, mas como um símbolo da falência social e moral de uma época.
O que sabemos é que ele conhecia bem a cidade. Agia com rapidez. Escolhia vítimas vulneráveis. E parou tão repentinamente quanto começou. Seja por prisão, morte, internação ou simples escolha.
LEGADO E CULTURA POP
Jack, se tornou uma figura icônica do terror e da cultura pop. Sua imagem inspirou livros, filmes, séries e músicas. O mistério sobre sua identidade continua a intrigar estudiosos e amadores em todo o mundo.
O Museu de Jack, em Londres, atrai milhões de visitantes por ano. Em jack-the-ripper.org, é possível consultar detalhes dos casos, mapas e documentos originais da investigação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A figura de Jack, é mais que um criminoso. Ele representa o lado obscuro da humanidade, os limites da investigação policial da época e o poder do medo coletivo. Talvez nunca saibamos quem ele foi. Mas sua presença continua viva, ecoando entre os becos de Whitechapel.
"Vocês nunca me pegarão. Amo o meu trabalho e quero continuar. Em breve ouvireis de mim novamente." — Carta supostamente enviada por Jack, o Estripador
E assim, encerramos mais uma investigação aqui no Diário Investigativo. Se você gostou desse mergulho pelo lado mais sombrio da história, assine nossa newsletter e fique por dentro de novos casos.
Daniel R. Editor-chefe, Diário Investigativo
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